quinta-feira, 26 de maio de 2011

Pudim - por Marta Medeiros

Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir Pudim de sobremesa,
contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente
um pedacinho minúscula do meu pudim preferido. Uma só.

Quanto mais sofisticado o restaurante,menor a porção da sobremesa.
Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um pudim bem cremoso
e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser,
sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.

O PUDIM é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.
A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca,
de aventuras pela metade. A gente sai pra jantar, mas come pouco.

Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.
Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil
(a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').

Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta.
Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.
Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá,
mas se obriga a ir malhar. E por aí vai.

Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...

Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça,
enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...

Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'. Deixar de lado a régua,
o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.

Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito.
Recusar prazeres incompletos e meias porções.

Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim:
'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'...

Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar
vários pedaços de pudim, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados,
a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.

Um dia a gente cria juízo. Um dia.Não tem que ser agora.

Por isso, garçom, por favor, me traga: um pudim inteiro
um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', uma caixa de trufas bem macias
e o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente. OK?
Não necessariamente nessa ordem.
Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago...

PENSE...

domingo, 8 de maio de 2011

Profissão Mãe

Uma mulher foi renovar a sua carteira de motorista.
Pediram-lhe para informar qual era a sua profissão.
Ela hesitou, sem saber bem como se classificar.
"O que eu pergunto é se tem um trabalho", insistiu o funcionário.
"Claro que tenho um trabalho", exclamou.
"Sou mãe".
"Nós não consideramos "mãe" um trabalho.
Vou colocar "Dona de casa", disse o funcionário friamente.
Não voltei a lembrar-me desta história até o dia em que me encontrei em situação idêntica.
A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona da situação, perguntou: Qual é a sua ocupação?
Não sei o que me fez dizer isto, as palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora,
"Sou Doutora em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas."
A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permaneceu congelada no ar e olhou-me como quem diz que não ouviu bem.
Eu repeti pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas.
Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com tinta preta, no questionário oficial.
Posso perguntar, disse-me ela com novo interesse, o que faz exatamente?
Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me responder:
"Desenvolvo um programa a longo prazo (qualquer mãe faz isso), em laboratório e no campo experimental(normalmente eu teria dito dentro e fora de casa). Sou responsável por uma equipe (minha família), e já recebi quatro projetos (todas meninas).
Trabalho em regime de dedicação exclusiva(alguma mulher discorda???), o grau de exigência é em nível de 14 horas por dia (para não dizer 24 horas).
Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária que acabou de preencher o formulário, se levantou e, pessoalmente me abriu a porta.
Quando cheguei em casa, com o título da minha carteira erguido, fui recebida pela minha equipe: uma com 13 anos, outra com 7 e outra com 3 anos. Do andar de cima, pude ouvir o meu novo experimento(um bebê de seis meses), testando uma nova tonalidade de voz.
Senti-me triunfante! Maternidade... que carreira gloriosa!
Assim, as avós deviam ser chamadas "Doutora-Sênior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas".
As bisavós: "Doutora- Executiva- Sênior".
E as tias: "Doutora - Assistente".
Uma homenagem carinhosa a todas as mulheres, mães, esposas, amigas, companheiras.

Doutoras na Arte de fazer a vida melhor !!!